FORA DA CURVA: Blog aponta contradições do Salvador Fest e diz que evento perdeu identidade

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Havia algo de errado com a multidão. Em minha primeira vez na ?maior festa de camisa colorida do mundo?, o que vi deste título estava mais para dimensão do que para a diversidade. Realizado neste domingo (18) no Parque de Exposições, o Salvador Fest, antes sinônimo indissociável de um evento voltado às comunidades pobres da capital baiana, já não é mais o mesmo.

Grandes festivais como este costumam ? ou costumavam ? ser o principal espaço de expressão da cultura periférica. Assim, é preciso que se entenda que aquela parcela pouco prestigiada de nossa capital vê nas horas de show um momento se fazer representar por seus signos e semelhantes, ao mesmo tempo em que tem oportunidade de, por pelo menos um dia, não ser conteúdo de páginas policiais.

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No entanto, a pista que ostenta o colorido das camisetas se recolheu a um espaço um tanto quanto mais modesto do que o de costume. A seus lados, como em que uma grande metáfora, se viam erguidos camarotes que já de pronto sinalizavam a mudança de perfil do evento. Chamava atenção o nome de um deles: ?Glamour?, palavra inglesa que, certamente, não faz parte do vocabulário ou tampouco da vida dos que a viam de longe.

Este mesmo Portal, há cerca de uma semana, discutiu a tendência de elitização da festa. De fato, o dito ?pagode proibidão?, que há anos por ali reinava, pouco se ouviu no palco destaque do evento. À exceção de representantes como Léo Santana e Psirico, os acordes que ecoaram poderiam vir de qualquer outra grande festa soteropolitana. No afã de trazer um dinheiro mais abastado e rostos mais propícios ao pós-venda, o Salvador Fest se transfigura e, certa maneira, passa a negar suas origens.

Uma faca de dois gumes.

?Venho aqui desde 2011, época que a galera, e até minha família, me criticava muito, principalmente por conta da violência. Tinha muita confusão mesmo. Gente presa toda hora. Agora tá mais tranquilo, mas sinto falta das atrações de antigamente no palco principal. Agora estão todos só nos camarotes. Ali sim, faziam o povão descer mesmo?, contava Sandra Morais, secretária de 27 anos e moradora do Bairro da Paz, enquanto se esquivava de um dos pelotões da PM, que sistematicamente entrecortava a pista principal.

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A poucos instantes e metros dali, este blog foi convidado a subir em um exclusivo palco montado no camarote âncora do evento. O Fit Dance, grupo de dança famoso por seu canal de coreografias no YouTube, iria se apresentar. Na plateia, iluminados por fortes luzes de led, reluziam smartphones em riste. Estar ali não custava menos de R$300,00. Um dos telefones era de Luis Gustavo, empresário de 31 anos e morador da Pituba. ?Acho que eles [a produção] se tocaram. Trouxeram um ambiente mais limpo, mais sofisticado. E agora tem gente bonita? Agora dá pra andar de boa?, afirmou, enfaticamente.

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Se lidos em momentos distintos, há quem diga que os depoimentos de Sandra e Luiz Gustavo não falam sobre a mesma festa.

Em um movimento contraditório, o Salvador Fest abre mão da proposta que o tornou sensação entre as massas. A tentativa de se tornar um evento plural, onde tanto Pernambués quanto o Horto ?descem? foi falha, sendo inevitável e notoriamente visíveis suas fortes nuances de estratificação. Se antes a cultura popular da cidade se via ali refletida, hoje se dilui em nomes nacionais e de exigência para transmissão ao vivo do Multishow.

O povo, outrora apoteótico, agora pouco parece importar.

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