Cultura

Caetano e Gil celebram 50 anos de carreira com show intimista

Caetano e Gil celebram 50 anos de carreira com show intimista

Por Da Redação

Caetano e Gil celebram 50 anos de carreira com show intimistaReprodução

A celebração dos 50 anos de carreira — e de amizade — de Caetano Veloso e Gilberto Gil, na estreia da turnê “Dois Amigos, Um Século de Música”, nesta quinta-feira (20), em São Paulo, foi feita em clima de karaokê intimista e pura ovação.


O público ruidoso acompanhou com coro e palmas o quanto pode. “Bom estar de volta. E com garoa”, brincou Caetano, antes mesmo de cantar “Sampa”. No fim, os paulistas ganharam um bis adicional, com os dois sambando à beira do palco e canções fora do repertório da turnê, como “Leãozinho” e “Three Little Birds”


Gil e Caetano já dividiram muitos projetos desde a “criação” do movimento Tropicália, mas este certamente é um dos mais delicados. São apenas os dois ali no palco, com seus violões, olhares carinhosos recíprocos e um punhado de grandes canções. Apenas o atraso de 40 minutos e o preço do ingresso destoavam do festejo.


O encontro no Brasil teve até mesmo música inédita, feita em dupla poucas horas antes. A canção não teve o nome revelado, mas seguiu a trilha principal da viagem sonora: o Brasil.


No palco, bandeiras dos estados brasileiros foram penduradas como em um varal, e um painel ao fundo revelava formas geométricas coloridas — incluindo uma estrela de Davi, a lembrar da polêmica ida da dupla a Israel.


A viagem começa de volta à Bahia, com “Back to Bahia”, escrita por Gil em sua volta do exílio em 1972. É o aviso de que o show, tal qual o “Expresso 2222”, presente no show, atravessaria universos e períodos dessa história.


O guru daquela época — e ainda hoje muito presente na carreira de ambos–, João Gilberto, é reverenciado desde a disposição do show às escolhas sentimentais das canções como “É Luxo Só”, “Eu Vim da Bahia” e a mais bossa de Caetano, “Coração Vagabundo”. Dessa época, até o singelo samba “É de Manhã”, sua primeira composição gravada (por Maria Bethânia), ganha espaço. “Essa canção é a mais velha das nossas vidas. Foi feita em 1964. Agora vamos tocar a mais nova, que terminamos hoje pela madrugada”, anunciou Caetano.


Com refrão sobre “as camélias do quilombo do Leblon”, o samba sem nome foi bem recebido e trazia na gênese o país como objeto de questionamento e reflexão.


“Tropicália”, de Caetano, seguida dos versos de “Marginália II”, de Gil e Torquato Neto, valeram mais que qualquer discurso político: “Eu, brasileiro, confesso / Minha culpa, meu pecado / Meu sonho desesperado / Meu bem guardado segredo / Minha aflição”


“São João Xangô Menino” — “viva o milho verde, viva São João, viva qualquer coisa” –, “Andar com Fé” e “Filhos de Gandhi” vêm em tom de celebração dos ritos e símbolos brasileiros.


Mas a própria existência serve de musa inspiradora aos baianos. Em “Super Homem” e “Terra”, Gil e Caetano buscam respostas do mistério divino. Com “Drão” e “Esotérico” e “Odeio”, os afetos são revividos. Gil traz a mais forte reflexão de todas. “Não Tenho Medo da Morte”, de um disco que passou quase desapercebido nos início dos anos 2000 “Banda Larga Cordel”, é tocada apenas com batidas da não no violão e uma voz cavernosa:


“Não tenho medo da morte mas medo de morrer, sim, a morte e depois de mim. Mas quem vai morrer sou eu, o derradeiro ato meu, e eu terei de estar presente”.


Se a composição não tem sido o forte de Gil nos últimos anos, o músico ainda é um virtuoso instrumentista. Não à toa, Caetano decidiu se tornar artista quando viu o amigo pela primeira vez na TV na Bahia.


A trinca “Desde que o Samba é Samba”, “Domingo no Parque” e “A Luz de Tieta”, já no bis, esquentou ainda mais o coro do público.


Não é sempre que se tem a sorte de ver dois grandes artistas, cada um com sua característica, no auge, celebrando 50 anos de carreira com amigos e lucidez. Não faltam motivos para celebrar. Os dois se encontram em mais uma viagem, saudosos, mas sem medo da morte.


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