
Pode, Waldir? Quando Gil tentou se candidatar a prefeito e terminou como o vereador mais votado de Salvador
Atualizado em 19 de abr. de 2022 15h28
Publicado em 19 de abr. de 2022 15h00
Atualizado em 19 de abr. de 2022 15h28
Publicado em 19 de abr. de 2022 15h00
Foto: Márcio Lima/divulgação
Muita gente não sabe, mas Gilberto Gil tentou ser prefeito de Salvador. No retorno à capital baiana, em 1987, ele se filiou ao MDB e lançou a ideia. Era o artista negro mais popular do Brasil, com forte adesão na cidade, mas os políticos conservadores barraram a sua candidatura. Ele contou que, em conversa com Waldir Pires, então governador da Bahia, ele teria dito que a candidatura de Gil "implodiria" o MDB, porque ele era presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM) e defendia pautas que, na época, não tinham muita adesão, como o meio ambiente.
Gil queria compatibilizar a Salvador profunda e histórica com a Salvador moderna. Um equilíbrio entre as duas cidades. Mas, apesar de passar a usar terno e fazer diversas ações políticas, a candidatura a prefeito não aconteceu. Ele lançou a candidatura a vereador, e no primeiro dia de propaganda na televisão, foi exibido um longo clipe da música que era um verdadeiro "soco" em Waldir Pires.
Confira a letra, abaixo:
Pra prefeito, não
Pra prefeito, não
E pra vereador:
Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?
Prefeito ainda não pode porque é cargo de chefia
E na cidade da Bahia
Chefe!, chefe tem que ser dos tais
Senhores professores, magistrados
Abastados, ilustrados, delegados
Ou apenas senhores feudais
Para um poeta ainda é cedo, ele tem medo
Que o poeta venha pôr mais lenha
Na fogueira de São João
Se é poeta, veta!
Se é poeta, corta!
Se é poeta, fora!
Se é poeta, nunca!
Se é poeta, não!
O argumento é que o momento é delicado
E prum pecado desse tipo
Pode não haver perdão
Mudança é arriscado, muda-se o palavreado
Mas o indicado
Isso ele não muda, não
O indicado deve ser do tipo moderado
Com um mofo do passado
Peça do status quo
Se é poeta, veta!
Se é poeta, corta!
Se é poeta, fora!
Se é poeta, nunca!
Se é poeta... oh!
O certo poderia ser o voto no Zelberto
Mas examinando mais de perto
Ele tem que duvidar
A dúvida de que a Bahia tenha um dia tido a primazia
De nos dar folia
De nos afrocivilizar
Pra ele civilização é a França que balança
No seu peito de homem direito
Homem de jeito sutil
Se é poeta, veta!
Se é poeta, corta!
Se é poeta, fora!
Se é poeta, nunca!
Se o poeta é Gil!
Pra prefeito, não
Pra prefeito, não
E pra vereador:
Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?
🎧 Ouça aqui
REPOSTA
Waldir Pires, que negou ter vetado o nome de Gil, respondeu com uma outra música: "Quem te viu, quem te vê... Se não é mais Gil, que bicho é você?".
RESULTADO
Gil foi eleito o vereador mais votado da cidade, com 11.111 votos. Passados quatro anos, ele não tentou a reeleição, mas você já pensou que sensacional seria ter Gilberto Gil prefeito da capital mais negra do mundo, fora da África?
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
Onã Rudá é nordestino, filho de Odé, ativista antirracista e LGBTQIAP+. Ele também é midiativista e fundador da Torcida LGBTricolor, do Bahia.
Instagram: @onaruda2