
Já pensou se todos tivessem igualdade de condições e oportunidades?
Atualizado em 21 de jul. de 2021 17h11
Publicado em 21 de jul. de 2021 17h00
Atualizado em 21 de jul. de 2021 17h11
Publicado em 21 de jul. de 2021 17h00
Crédito da foto: ilustrativa/Pexels
Em abril deste ano, conhecemos a história de dois estudantes baianos que deram um show no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tiraram notas excelentes na redação. Helder dos Santos Lima, do município de Xique-Xique, tirou a nota máxima, 1000, e Matheus de Araújo Moreira Silva, da cidade de Feira de Santana, não ficou muito atrás e atingiu 980 pontos na redação.
Além de mandarem muito bem no Enem, o que ambos têm em comum é a origem humilde e uma trajetória de muita superação. Mesmo com todos os contratempos pela falta de acesso a uma educação de qualidade, moradia com muitas limitações e até falta de energia elétrica para estudar, eles alcançaram resultados incríveis. No entanto, são resultados inviáveis para outros tantos brasileiros por conta da falta de condições adequadas de ensino e da desigualdade social.
Essas notícias de superação são, sobretudo, um alento de esperança no cenário de hoje, em que presenciamos muitas notícias tristes devido à má condução da crise pandêmica no âmbito federal. Entretanto, esses casos também nos trazem reflexões e alguns questionamentos sobre a desigualdade de oportunidades e a precariedade da educação no Brasil e na Bahia.
Jovens como Helder e Mateus certamente irão inspirar centenas de outros jovens, além de transformar suas próprias realidades e a de muitos que estão ao seu redor. Porém, não podemos romantizar a precarização da educação e a desigualdade de condições que inviabilizam a geração de oportunidades.
Assim como esses dois baianos foram submetidos a muitas restrições e dificuldades para alcançarem esses resultados, milhares de outros jovens de origem semelhante também vivenciam condições precárias e, por algumas outras vulnerabilidades a mais, não conseguem dar continuidade nos estudos para seguir em busca dos seus sonhos.
Em nosso estado, por exemplo, são registrados índices muito ruins na educação. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, divulgado no ano passado, apontou que a Bahia teve o terceiro pior desempenho do país entre os alunos do Ensino Médio. Já nos anos finais do Ensino Fundamental, nosso estado ocupou o penúltimo lugar no ranking nacional.
E se antes da pandemia a educação já não estava boa por aqui, agora, ou pelo menos durante grande parte dessa crise sanitária, a situação ficou ainda mais complicada. Em um ranking brasileiro de educação pública à distância durante a pandemia elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Bahia ficou em último lugar. De acordo com o relatório da FGV, o estado tirou nota zero na pesquisa porque não apresentou nenhum programa de ensino no ano passado.
Além de muitos outros estragos, a pandemia aprofundou a precariedade da nossa já combalida educação. E, diante desse cenário, eu me questiono: quantos jovens brilhantes espalhados pela Bahia não conseguem explorar plenamente os seus talentos por causa do acesso precário à educação e outras debilidades sociais?
Se com poucos recursos o nosso estado já revela talentos como Helder e Mateus, muito por conta das suas genialidades e esforços homéricos, imagine com o investimento adequado em educação e redução de desigualdades sociais. Tenho certeza que teríamos uma sociedade muito mais justa, digna e igualitária.
Sei o quanto a educação transformou a minha vida e possibilitou que eu pudesse alçar voos mais altos. Da mesma forma, acredito que a educação irá transformar as realidades de Matheus, de Helder e de muitos outros jovens. Por isso, acredito ser fundamental lutar por um ensino de qualidade que viabilize a igualdade de condições e oportunidades. Bons resultados na educação, como a desses dois jovens baianos, não podem ser exceções. Eles precisam ser a regra.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
Ativista pela redução das desigualdades, filha mais velha de quatro irmãos e fundadora do Move Bahia. Essa é Isabela Sousa, uma jovem de Campinas de Pirajá que cresceu sentindo na pele as dificuldades de uma realidade periférica de Salvador. Hoje, é uma formanda em Direito que sonha pela igualdade de oportunidades e tem a educação como pilar das transformações que a sociedade precisa. Aos 25 anos, Isabela já foi embaixadora do movimento Mapa Educação, é Líder Estadual do Movimento Acredito e representou o Brasil no maior congresso de jovens líderes do mundo, o One Young World, em Londres.
Instagram: @isabelasousaba