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07/07/2021 16h50 | Atualizado em 07/07/2021 16h54

Já ouviu falar da síndrome da dor pélvica crônica? Ela afeta o sono e a vida sexual

Já ouviu falar da síndrome da dor pélvica crônica? Ela afeta o sono e a vida sexual
Dra. Anita Rocha
Crédito da foto: ilustrativa/Pexels

 

A síndrome da dor pélvica crônica (SDPC) é definida como dor localizada na região pélvica que dura mais de seis meses, não estando relacionada ao ciclo menstrual, gravidez, trauma local ou operações pélvicas. Esta síndrome merece ser alvo de discussão, pois geralmente compromete a qualidade de vida dos pacientes, uma vez que está associada à dor de forte intensidade, disfunção sexual e comorbidades psíquicas. A SDPC tem frequência de 3% a 10%, pode acometer homens ou mulheres, embora seja mais frequente no sexo feminino, e está associada ao grande absenteísmo no trabalho. 

A SDPC tem várias causas, podendo estar relacionada à alterações ginecológicas e urológicas, dentre outras. Cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa, prostatite crônica e a vestibulodinia provocada (DVP) são alguns dos subgrupos da SDPC e causam sono interrompido, dificuldade na relação sexual, depressão ou ansiedade. 

Vários mecanismos foram sugeridos como a base fisiopatológica do SDPC. Dentre estes destacam-se: presença de processo infeccioso; inflamação neurogênica, com alterações químicas locais; hipóxia decorrente de comprometimento do fluxo sangüíneo na área pélvica e disfunção dos músculos do assoalho pélvico. Nenhuma das opções citadas justificam isoladamente as queixas apresentadas pelos pacientes com SDPC. Estima-se que esses mecanismos interajam, promovendo a SDPC. Uma explicação comum é que, por um motivo desconhecido, a camada de glicosaminoglicano que reveste a mucosa da bexiga e da vagina está danificada. Esse dano leva a uma cadeia de processos no nível das células nervosas que culminam em uma inflamação neurogênica e ativação de células inflamatórias, com consequente ativação das fibras A-delta e C, responsáveis pela transmissão do estimulo de dor da periferia até o sistema nervoso central. Há hipersensibilização periférica, hipersensibilização central e disfunção das vias envolvidas com a percepção da dor. 

O tratamento SDPC é variado e inclui a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o uso de medicamentos como antidepressivos tricíclicos, antidepressivos de ação dual, gabapentinoides e terapia hormonal, utilizada por diferentes vias. Capsaicina e toxina botulínica têm sido aplicadas com resultados controversos. Os vários medicamentos são administrados sistemicamente ou localmente e podem ser classificados por seus mecanismos de ação: melhoria da regulação da dor por medicamentos que inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina, preparações que atrasam a velocidade de condução nervosa como os anestésicos locais e fármacos que inibem a produção de prostaglandinas como antiinflamatórios não-hormonais e corticosteróides. A fisioterapia miofascial é recomendada para a SDPC e é um estágio importante de intervenção terapêutica para o assoalho pélvico. 

A cirurgia é o último recurso quando há falha no tratamento tradicional. Algumas mulheres com síndrome da bexiga dolorosa se beneficiam com a destruição dos nervos da bexiga ou com o implante de eletrodos que estimulam eletricamente as raízes nervosas responsáveis pela sensibilidade e pelo funcionamento da bexiga. Entretanto, esse tratamento oferece solução apenas parcial para o problema. Mulheres com DVP podem ser submetidas à vestibulectomia, na qual a membrana mucosa da vagina, o hímen e algumas glândulas da região são removidas.  

Em vista dos achados acima e devido à combinação entre hipersensibilidade à dor e fatores psicológicos entre mulheres com SDPC, é importante o acompanhamento conjunto com a equipe de psicologia. 

Em resumo, a SDPC representa uma síndrome de dor de longa permanência, que combina mau funcionamento anatômico dos músculos do assoalho pélvico com mau funcionamento das estruturas ligadas ao processamento da dor, com consequente envolvimento de fatores psicológicos e cognitivos. O diagnóstico precoce e o acompanhamento regular da equipe de saúde podem ajudar no controle dos sintomas. A intervenção terapêutica nestes casos deve ser multidisciplinar. 

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.