
Você sabia que pacientes com alterações do padrão do sono são mais suscetíveis a desenvolver dor crônica?
Atualizado em 18 de ago. de 2021 10h23
Publicado em 18 de ago. de 2021 09h00
Atualizado em 18 de ago. de 2021 10h23
Publicado em 18 de ago. de 2021 09h00
Foto: ilustrativa/Pexels
O sono é um processo fisiológico e comportamental complexo que permite ao indivíduo isolar-se parcialmente do ambiente externo, sendo considerado essencial para a recuperação psicológica e física do ser humano,para a consolidação da memória e para a modulação da emoção, do desempenho e da aprendizagem.
Há duas fases que se destacam na compreensão da fisiologia do sono, a fase não-REM (NREM) e a fase REM. A fase não-REM é conhecida como a fase de movimentos não rápidos dos olhos, enquanto que a fase REM tem sido denominada como fase de movimentos rápidos dos mesmos. Cada uma destas fases encontra-se associada a elementos fisiológicos, comportamentais, neuroquímicos e eletrofisiológicos próprios.
O sono NREM é subdividido em três estágios, N1, N2 e N3. Os estágios N1 e N2 representam o “sono leve”, enquanto que o N3 é o “sono profundo”, caracterizado por limiares de excitabilidade mais elevados e domínio da atividade cerebral de ondas lentas. É na fase NREM que ocorre a redução da atividade física e mental, da frequência cardíaca, da pressão arterial e da respiração. No ciclo do sono, esta fase é seguida pela fase REM, momento em que se observa intensa atividade cerebral, redução ou inatividade da musculatura e instabilidade dos parâmetros fisiológicos. A medida que a noite avança, a duração e a frequência do estágio N3 diminuem, o estágio 2 torna-se mais proeminente e as fases REM tornam-se mais longas. É durante a fase REM que predominam os sonhos, a consolidação da memória de curto prazo e o aprendizado.
Numerosos estudos têm sido realizados no sentido de identificar a relação entre sono e dor. Em verdade, o que se sabe é que o sono é um impulso regulado pelo comportamento, que tem por função manter a homeostase do organismo e otimizar a função em vários sistemas fisiológicos. A dor, por sua vez, é um sinal físico e emocional de dano corporal que motiva fortemente o comportamento. Sono e dor estão relacionados. As queixas de sono estão presentes em 67-88% dos distúrbios de dor crônicae pelo menos 50% dos indivíduos com insônia, distúrbio de deficiência do sono mais comumente diagnosticado, sofrem de dor crônica.
Embora a relação entre má qualidade do sono e dor crônica pareça óbvia, sua bidirecionalidade tem sido alvo de vários questionamentos. Análises qualitativas recentes de estudos longitudinais e não longitudinais apontam para um efeito unidirecional em favor do pensamento de que os distúrbios do sono causam exacerbação da dor e hiperalgesia, fenômeno responsável pelo aumento da sensibilidade à estímulos dolorosos. Em contraste, outros trabalhos tem demonstrado que estímulos nociceptivos podem interromper o sono e produzir significativo aumento dos despertares noturnos, o que se traduz em piora da qualidade de vida, queda da produtividade e aumento do sofrimento. Isto demonstra o quanto é importante investir em uma melhor compreensão destes fenômenos e também das variáveis biopsicossociais que contribuem para o desenvolvimento de transtornos do sono e da dor, buscando identificar aqueles que são passiveis de serem trabalhados de forma preventiva. Sabe-se que afetos negativos como humor depressivo são fatores preditivos positivos para o desenvolvimento de insônia. Um estudo publicado na ClinicalJournalofPain demonstrou que humor negativo media a relação entre sono e dor em pacientes portadores de dor nas costas, fibromialgia e dor facial.
Diferentes estratégias têm sido propostas para o controle e prevenção dos distúrbios do sono e consequentemente da dor. Dentre elas destacam-se medidas simples de prevenção primária, as quais são representadas pela realização de atividade física regular, cuidados com a alimentação e a adoção de condutas que venham a contribuir para a redução de estresse. Neste contexto, é fundamental estipular um horário fixo para deitar e acordar, mesmo nos finais de semana, evitar consumo de bebidas alcóolicas e cigarro, pelo menos quatro horas antes de deitar, evitar a ingesta de bebidas e alimentos com cafeína antes de dormir, praticar esportes de forma regular, porém evitar faze-lo próximo ao horário de dormir, tornar o quarto um ambiente confortável, silencioso e com pouca luz e manter-se longe de dispositivos eletrônicos como celular e televisores nas horas que antecedem o momento de ir para a cama.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas.
Instagram: @draanitarocha