
Corticosteroides na prática clínica: heróis ou vilões?
Atualizado em 29 de set. de 2021 16h35
Publicado em 29 de set. de 2021 16h30
Atualizado em 29 de set. de 2021 16h35
Publicado em 29 de set. de 2021 16h30
Foto: ilustrativa/Pexels
Os corticosteroides representam um grupo de hormônios esteroides produzidos pelas glândulas supra-renais que tem um papel importante na manutenção da homeostasia do organismo. Eles foram descobertos na década de 50 e apesar de serem produzidos naturalmente, também podem ser aplicados de forma exógena, sendo utilizados com sucesso no tratamento de diferentes condições clínicas, uma vez que possuem um grande efeito anti-inflamatório e imunossupressor. Isto seria maravilhoso se estas medicações fossem isentas de efeitos colaterais e se estes fármacos não fossem utilizados de forma indiscriminada, sem prescrição médica. Um trabalho realizado no estado de Mato Grosso demonstrou que apesar dos possíveis danos a saúde que a automedicação e o uso irracional de corticosteroides podem trazer, que esta associação é uma realidade. Dentre os pacientes estudados, 75,5 a 93,1% consomem betametasona, hidrocortisona, prednisona, dexametasona e prednisolona sem orientação médica.
A indicação do uso de corticosteroide é incontestável em situações específicas como naqueles pacientes que perderam a capacidade de produzir o cortisol de forma natural, porém a sua aplicação em outros contextos tem sido alvo de controvérsia, seja em relação a indicação, a dose a ser aplicada ou a duração do tratamento instituído. Isto ocorre pois o uso de corticosteroide por curto período pode causar retenção de líquidos, edema em membros inferiores, aumento da pressão arterial, dor no estômago, aumento da glicemia e problemas relacionados ao funcionamento do sistema nervoso central, como déficit de memória, alteração do comportamento e do padrão do sono. Pacientes em uso de corticosteroide podem mostrar-se irritados, com dificuldade de concentração e até mesmo desorientadas. Já o uso crônico de corticosteroide está associado a glaucoma (aumento da pressão intraocular), catarata, edema na face (rosto redondo), maior suscetibilidade a infecções e osteoporose (redução da densidade óssea) com maior predisposição a fraturas patológicas
Os corticosteroides podem ser utilizados por diferentes vias: oral, inalatória, como spray nasal, na forma de colírio, de maneira tópica e até mesmo por injeções, sejam elas intramusculares, intravenosas, intraarticulares e por via peridural. A eficácia dos corticosteoides depende da via de administração, da patologia e das comorbidades apresentadas pelo paciente. Corticosteroides aplicados por via peridural em portadores de dor lombar estão associados a melhora da dor em até 75% dos pacientes. Quando se conhece bem o fármaco, o paciente e os efeitos colaterais a ele atrelados, pode-se obter resultados ainda melhores e mais, pode-se adotar medidas para prevenir e/ou para tratar as complicações de forma precoce, o que irá implicar na redução do impacto das mesmas na saúde, na funcionalidade e na qualidade de vida do paciente.
Pacientes que fazem uso crônico de corticosteroides devem utilizar uma pulseira de alerta médico e compartilhar esta informação com a equipe de saúde responsável pelo seu tratamento, pois a suspensão abrupta do mesmo pode implicar no surgimento de uma síndrome conhecida como insuficiência adrenal secundária, a qual é bastante desconfortável e caracterizada por fadiga, dores pelo corpo, náusea, vômito, diarreia, hipotensão e tontura. É aceito que o uso de corticosteroide por até sete dias, em qualquer dose, permita a sua retirada abrupta. Para uso superior a sete dias, é aconselhável a retirada lenta do mesmo. Cuidados adicionais podem incluir o uso de cálcio e vitamina D, além da troca da via de administração. Os corticosteroides utilizados de forma direcionada podem implicar na menor exposição de outras partes do corpo a este fármaco e consequentemente em maior segurança quanto ao seu uso.
É verdade que os corticosteróides podem causar uma série de efeitos colaterais, mas também podem contribuir para o controle da inflamação, da dor e de uma série de desconfortos presentes em diferentes condições clinicas. Converse com seu médico para ajudá-lo a entender melhor os riscos e benefícios dos corticosteroides e fazer escolhas acertadas sobre sua saúde.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas.
Instagram: @draanitarocha