Milionários decidem NÃO deixar fortuna para os filhos. O que temos a ver com isso?
Foto: ilustrativa/Pexels
Recentemente circulou a notícia de que algumas das pessoas mais ricas do mundo decidiram não deixar grande herança para os filhos, na ideia de que dinheiro demais pode atrapalhar, ao invés de ajudar.
No Brasil, David Vélez (fundador do Nubank) disse que "depois de um certo ponto, riqueza adicional não traz felicidade ou utilidade adicionais". Ele e a esposa afirmaram que "permitir que os filhos adquiram um senso de propósito vai ajudar a moldar sua autoconfiança e um caráter forte".
Ok! O projeto é bom, mas vamos ampliar o debate!
Apurando um pouco as vistas, percebemos que esses pais, intitulados de super-ricos, vinculam a quantidade de dinheiro ao caráter e ao senso de propósito.
Tudo leva a crer que, de alguma forma, há um certo desencanto desses milionários com o próprio dinheiro. Certamente se deram conta de que o dinheiro não entregou a prometida felicidade plena que eles passaram a vida inteira buscando.
Ouso supor que esses mesmos filhos, que não irão receber herança, foram negligenciados durante a busca dos pais pela fortuna.
Se você não é um milionário, talvez ache que esse assunto está longe da sua realidade, afinal, tudo que a maior parte dos pais e mães sonha é deixar os filhos bem encaminhados financeiramente.
Mas, se você considera possível direcionar a dignidade e o caráter dos filhos através de mecanismos de escassez e abundância, cuidado!
Escassez e abundância não são capazes de definir caráter. Todos nós temos exemplos de pessoas com bom e mau caráter nas diversas classes sociais.
Logo, a grande questão não se resume a saber dosar o dinheiro que deixamos para os filhos, mas sim a lição que iremos deixar para eles sobre o dinheiro, sobre propósitos e objetivos de vida, sobre empatia, caridade, respeito, amizade e princípios.
Atribuir à quantidade de dinheiro, de forma isolada, a função de definir o caráter de um filho ou de uma filha, é fugir da responsabilidade de educar.
Mesmo sendo recomendado não realizar todos os desejos de uma criança, pode vir a ser cruel tentar educar pelo critério da meritocracia.
Seria muito bom que a dureza da vida desse propósito e caráter a todos, mas não funciona assim. Nem sempre isso é o bastante.
Abrindo ainda mais o debate, conheço pais e mães que também negam "afortunar" o filho de AMOR, na ideia de que ficarão mimados e frágeis.
É forte no senso comum a ideia de que a dor, o sofrimento, a dificuldade, gera força e evolução.
A dificuldade ensina, sem dúvida, mas também precisamos fortalecer a criança com afeto, respeito, atenção e cuidado.
O dinheiro não compra dignidade, já sabemos disso. Por outro lado, forçar uma escassez (de dinheiro ou amor) para forjar caráter, força, extrair dignidade e criar filhos com "propósitos", também não é razoável.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.