Culpar os paredões é fácil. Difícil é assumir a responsabilidade
Crédito da foto: divulgação/SSP
A população baiana tem presenciado uma triste escalada da violência no Estado. Cotidianamente, temos nos deparado com notícias retratando casos de extrema violência. É lamentável saber que, quando o assunto é violência, nosso Estado é um dos que mais se destaca negativamente no Brasil. E o mais triste de tudo é que esse é um cenário que já se arrasta por anos e tem se intensificado nos últimos meses.
Casos recentes de assassinatos e chacinas em Salvador têm provocado decisões questionáveis do governador do Estado. E uma dessas decisões controversas, por exemplo, foi a de responsabilizar os "paredões'' - festas que reúnem carros com som - pelo aumento da violência no estado. Como se a violência fosse exclusividade desses espaços e se caixas de som no fundo de um carro tivessem esse poder de interferir em toda a política de segurança pública.
Tal decisão, nada mais é do que uma clara tentativa de tirar o foco da má atuação na resolução dos reais problemas, como sermos os últimos no Brasil em educação e emprego e os primeiros em insegurança pública. Além dessas decisões suscitarem polêmicas quanto ao seu cunho discriminatório, nos traz a reflexão sobre a ineficiente construção das políticas públicas na Bahia de forma integrada.
Infelizmente, estamos colhendo agora o resultado de políticas públicas mal elaboradas por mais de uma década que inviabilizam o desenvolvimento dos baianos (as). Seja na educação, na saúde, na infraestrutura, na geração de emprego e no crescimento econômico, a Bahia tem tido desempenhos abaixo do desejado. E é num cenário como este, onde há baixa perspectiva de futuro e não há avanço em diversos setores sociais durante longos anos, que se torna propício o crescimento de quadros de violência.
A verdade é que não há chance de trilharmos um caminho de prosperidade, se não houver a construção de condições adequadas para a solução da crise social que passamos. E o melhor caminho para alcançar avanços sociais e, consequentemente, a redução nos índices de violência é com a construção conjunta de políticas públicas eficientes na saúde, educação, economia e cultura. Entretanto, como podemos conquistar melhorias e uma sociedade menos violenta se a educação no Estado vai tão mal há anos?
Para termos uma percepção melhor, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, por exemplo, apontou que a Bahia teve o terceiro pior desempenho do país entre os alunos do Ensino Médio. E nos anos finais do Ensino Fundamental, nosso Estado ocupou o penúltimo lugar no ranking nacional.
Ao mesmo tempo, a Bahia lidera o ranking de jovens que não concluíram o Ensino Médio de acordo com a Pnad Contínua 2019. E como se já não bastasse esses dados negativos, desde 2018 vem sendo colocado em prática um plano de fechamento das escolas estaduais em todo o Estado. São com essas políticas governamentais que teremos nossos jovens longe da criminalidade?
Então, a reflexão que fica é: como é possível esperar uma Bahia mais justa, próspera e menos violenta com essa má condução em um dos pilares fundamentais para formação de uma sociedade melhor?
Além desses índices negativos na educação, nosso Estado amarga a segunda maior taxa de desemprego do país. Tenho a plena certeza de que circunstâncias como essas não indicam uma conjuntura propícia para que uma sociedade se organize de maneira mais equilibrada e provedora de direitos básicos que todos (as) merecem.
É preciso que o problema da falta de segurança pública seja encarado com seriedade e com a consciência de que a violência é fruto de um somatório de políticas públicas ineficientes do governo estadual. A necessidade de mudar esse cenário é grande e não pode mais ser levada com tanta superficialidade a ponto de culpar as festas populares pelos casos de violência.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.