Outubro Rosa é sinônimo de autocuidado, mas quem cuida de quem cuida de tudo?
Foto: ilustrativa/Pexels
Estamos no mês que é inteiramente dedicado à conscientização sobre a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Um período que intensifica alertas sobre a importância do autocuidado e a necessidade da prática de hábitos saudáveis que toda mulher deve ou deveria ter a chance de ter.
Inicialmente, para termos uma ideia do quão importante é uma campanha que visa prevenir e combater o câncer de mama, é pertinente termos a ciência sobre o quanto ele atinge às mulheres. E os dados nos mostram que essa é uma das principais enfermidades enfrentadas pela população feminina. Depois do câncer de pele não-melanoma, o câncer de mama é o tipo de tumor mais frequente em mulheres no mundo e no Brasil, correspondendo a cerca de 28% dos novos casos de câncer.
Entretanto, além da campanha que sensibiliza e amplia o conhecimento sobre esse tema, torna-se fundamental que essas ações venham acompanhadas de uma reflexão sobre a necessidade de mudanças a respeito do cenário que muitas mulheres estão vivendo. Cenário esse que, muitas vezes, impossibilita ou cria barreiras para as mulheres terem hábitos saudáveis e até mesmo tempo para se cuidar.
Não é de hoje, por exemplo, que temos pesquisas indicando que as mulheres sofrem com a sobrecarga de atividades domésticas que vem acarretando dupla e até tripla jornadas de trabalho. Além disso, o índice de violência doméstica é um outro fator gerador de transtornos. Nesse quadro de pandemia, onde muitos problemas foram amplificados, essa realidade se tornou ainda mais exaustiva.
Um relatório produzido em 2020 pela Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que, enquanto tanto homens quanto mulheres tiveram um aumento não remunerado de trabalho profissional, as mulheres enfrentam um fardo no cuidado. Porém, esse cuidado não é para si.
A pesquisa demonstra que cerca de 60% das mulheres e 54% dos homens afirmaram aos pesquisadores terem visto crescer o tempo gasto em tarefas domésticas desde que a pandemia começou. Contudo, as mulheres relatam uma sobrecarga maior destas tarefas extras — e por períodos mais longos de tempo — do que os homens.
Assim, segundo a pesquisa, foi identificado que as mulheres estão utilizando cerca de 5,2 horas a mais por semana de cuidados com os filhos, enquanto os homens relatam um acréscimo de 3,5 horas nesse trabalho doméstico. Ou seja, as mulheres estão gastando mais de 30 horas por semana apenas para cuidar dos filhos, “o que equivale ao tempo médio gasto em um emprego de tempo integral”, afirma o relatório da ONU.
Dessa forma, a busca das mulheres por autocuidado se torna uma tarefa ainda mais complicada. Por isso, para combatermos efetivamente a alta no número de casos de câncer de mama, é preciso também discutirmos uma mudança dessa estrutura da sociedade que sobrecarrega as mulheres com duplas jornadas de trabalho e provoca problemas emocionais, hábitos pouco saudáveis para se alimentar e descansar, falta de tempo para realizar exames preventivos e, consequentemente, ocasiona adoecimentos precoces e evitáveis.
Ampliar a disseminação de informações sobre formas de prevenir e combater a doença é fundamental. Mas, tão fundamental quanto as campanhas de conscientização, é a geração de um cenário em que mulheres tenham a oportunidade de ter um olhar mais cuidadoso consigo. Logo, a prevenção do câncer de mama também ocorrerá através de uma reestruturação mais bem compartilhada das nossas relações de trabalho e atividades domésticas.
Faço esse convite a uma reflexão sobre mudanças necessárias para todos e todas. Então, vamos nos conscientizar, informar e incentivar outras mulheres a fazerem o autoexame, buscar auxílio médico e repensarmos essas condições sociais que adoecem tanto as mulheres?
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.