'Nada Suspeitos' é uma farofa que vale a pena ou perda de tempo?
Foto: divulgação
Ah, as farofas! Sabe aquele filme ou série que você assiste somente para se distrair e termina a sessão se sentindo mais leve? A produção não precisa ser requintada ou nem mesmo alcançar algum padrão do que é considerada uma boa obra, mas você a finaliza com uma sensação de que encontrou certo conforto. Talvez pelas risadas ou a falta de compromisso em trazer alguma excelência, a farofinha pode ser uma boa pedida.
E esta pode justamente ser a busca do espectador ao selecionar Nada Suspeitos para assistir. Todavia, será que a nova comédia da Netflix é boa ou pelo menos cumpre seu papel de entretenimento despretensioso? Primeiramente, é preciso se voltar para a própria produção, analisando alguns de seus fatores internos para tentar compreender como a técnica contribui para o seu resultado. Uma das coisas que chama a atenção de pronto para o seriado é o elenco que contém figuras conhecidas do cenário brasileiro de artistas e famosos.
Nomes como Silvero Pereira (Bacurau), Maíra Azevedo (Até o Fim), Thati Lopes (Diários de Intercâmbio), Gkay (Carnaval) e Fernanda Paes Leme (Cilada.com) podem empolgar o público. No entanto, um dos elementos mais falhos de Nada Suspeitos são as atuações. Contudo, isso não é necessariamente culpa do elenco, que parece tentar convencer e criar uma relação entre si. O que acontece na verdade é que o jogo de cena é constantemente perturbado pela necessidade de criar piadas.
Só que não tem como estas tiradas funcionarem se não há um contexto ou uma atmosfera construída previamente. Assim, muito antes do espectador ter estabelecido a sua entrada naquele universo ficcional, uma chuva de gags é jogada. Além disso, a constante bagunça interfere na narrativa. Algumas das partes que mostram como aquelas pessoas são disfuncionais, confusas e desorganizadas são válidas, porque revelam o estado caótico no qual as personagens se encontram.
No entanto, elas poderiam ter sido inseridas em uma crescente e com uma mise-en-scène¹ mais bem trabalhada e uma decupagem pensada para que fosse um caos organizado. Ou seja, a forma como o elenco é colocado em cena, suas ações e como eles são filmados merecia um olhar mais cuidadoso, para que quem assistisse embarcasse junto. Por isso, a obra como um todo conta com uma artificialidade, o que acaba a deixando entediante e, pior, sem graça.
Alguns momentos são realmente divertidos e valem a sessão – como a festa de aniversário de Jorginho (Paulo Tiefenthaler), principalmente a apresentação de Aquila (Silvero), que possui planos e movimentações de câmera que criam imersão e conectam a plateia com a história. Isto porque esta celebração já ocorre mais para o final da temporada, quando foi possível ganhar algum laço com aquelas figuras e, mais ainda, porque cada situação trazida no 01x07 é colocada separadamente, deixando espaço para que a fruição aconteça livremente.
É possível acompanhar as dinâmicas de cada núcleo e se rir com eles. Afinal, este é o objetivo aqui e ele fica diluído na maior parte dos episódios. Porque a questão do crime, em si, que circunda a trama, é um tanto óbvia e tão clichê, que já desde os primeiros minutos após o assassinato é nítida a reposta de quem o cometeu. Assim, o que valeria mesmo seria acompanhar as peripécias das personagens, que desejam a herança de Jorginho, sem que consequências ruins cheguem.
Para completar este cenário, o desfecho do seriado faz com que a temporada caia um pouco mais, justamente porque ela se vale demais da revelação de quem cometeu o crime, muito mais do que das consequências do acontecido.
Desta forma, Nada Suspeitos fica um pouco abaixo da média, trazendo um clima morno, que pode até mesmo impedir alguns de terminar a temporada inteira.
Com certa parte cômica que funciona aqui e ali – como no conflito que surge quando Xandra (GKay) está sem seus remédios –, a falta de um melhor planejamento entre construção de personagem, de conflitos e inserção das piadas, acaba comprometendo a série. Por fim, ainda existe um incômodo com a própria figura da Xandra, que apresenta uma sexualidade mal representada, na qual a possível lesbianidade dela é impressa apenas como algo para rir.
Novamente, eles se deixam levar pela piada, alcançando, assim, a meta oposta.
Mise-en-scène¹: disposição de cenários no palco, no teatro.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.