O mundo precisa de colo
Foto: ilustrativa/Pexels
Quem me conhece sabe que todo e qualquer estudo me atrai. Mais do que fazer parte da minha profissão, a curiosidade me chama a ler sobre diversificados temas. Certo dia me deparei com a notícia de uma pesquisa de 2019 que trazia como título “Especialistas defendem o poder do colo na preservação da saúde física e mental”. Gente! Isso é muito interessante! Lá fui eu investigar...
Fácil de constatar no cotidiano de crianças e adultos, o poder do colo e do acolhimento encontra suporte no estudo “Estresse Tóxico”, realizado pelo Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard (EUA). Os pesquisadores observaram que quando crianças se sentem ameaçadas em ambientes nos quais contam com o apoio de adultos, os efeitos fisiológicos do estresse são rapidamente revertidos.
De acordo com o estudo, sob ameaça física ou psicológica, o corpo humano, em qualquer fase da vida, passa por um aumento de batimentos cardíacos e da pressão sanguínea, além de uma descarga de hormônios do estresse, como o cortisol. Sem acolhimento e suporte, essa resposta ao estresse torna-se extrema e duradoura, impactando negativamente no cérebro em formação, com repercussões ao longo da vida.
Não sei exatamente o porquê, tudo isso me remeteu à humanidade nos dias atuais. A contemporaneidade celebra conquistas importantes, como os avanços tecnológicos, ao mesmo tempo que chora pelas perdas provocadas pela pandemia da Covid-19, guerras, incêndios nas florestas, ausência de uma política construtiva. Nosso cérebro adulto não está mais em formação, no entanto são incalculáveis os acontecimentos que impactam e repercutem em nossa vida.
Talvez, tudo teria mais coerência se enxergássemos o mundo como uma criança que merece colo. Não é preciso ser um grande especialista no assunto para saber que, tanto em crianças quanto em adultos, ser acolhido em um momento de mal-estar gera uma sensação de apaziguamento. Já vi reportagens mostrando em UTIs neonatal o toque terapêutico como estratégia para redução da dor, com indicação de que o estímulo afetivo chega mais rapidamente ao cérebro do que o estímulo doloroso, então o colo, o acolhimento bloquearia em certa medida a percepção da dor.
Enquanto escrevia este artigo, encontrei a fala da psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerar: “a falta de colo pode prejudicar o desenvolvimento como um todo da criança, gerando distúrbios psíquicos, com consequências nas demais fases da vida. Considero o afeto e o acolhimento da família e dos amigos tão importantes quanto os tratamentos e medicamentos adotados para o processo de cura”.
Ela lembra que uma das principais referências no assunto é o pediatra e psicanalisa inglês Donald Winnicott, que estudou a importância do holding (abraçar, dar colo, sustentar) e do handling (manipular, manusear) para a constituição do psiquismo, desde o nascimento até a vida adulta. Ou seja, se a gente não recebe, é mais difícil dar.
A forma como a gente se porta diante do mundo, é também a forma como seremos recebidos por ele. É a famosa lei da ação e da reação.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On