Saúde e Bem-Estar

Corticosteroides na prática clínica: heróis ou vilões?

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Corticosteroides na prática clínica: heróis ou vilões?

Foto: ilustrativa/Pexels

 


Os corticosteroides representam um grupo de hormônios esteroides produzidos pelas glândulas supra-renais que tem um papel importante na manutenção da homeostasia do organismo. Eles foram descobertos na década de 50 e apesar de serem produzidos naturalmente, também podem ser aplicados de forma exógena, sendo utilizados com sucesso no tratamento de diferentes condições clínicas, uma vez que possuem um grande efeito anti-inflamatório e imunossupressor. Isto seria maravilhoso se estas medicações fossem isentas de efeitos colaterais e se estes fármacos não fossem utilizados de forma indiscriminada, sem prescrição médica. Um trabalho realizado no estado de Mato Grosso demonstrou que apesar dos possíveis danos a saúde que a automedicação e o uso irracional de corticosteroides podem trazer, que esta associação é uma realidade. Dentre os pacientes estudados, 75,5 a 93,1% consomem betametasona, hidrocortisona, prednisona, dexametasona e prednisolona sem orientação médica.


A indicação do uso de corticosteroide é incontestável em situações específicas como naqueles pacientes que perderam a capacidade de produzir o cortisol de forma natural, porém a sua aplicação em outros contextos tem sido alvo de controvérsia, seja em relação a indicação, a dose a ser aplicada ou a duração do tratamento instituído. Isto ocorre pois o uso de corticosteroide por curto período pode causar retenção de líquidos, edema em membros inferiores, aumento da pressão arterial, dor no estômago, aumento da glicemia e problemas relacionados ao funcionamento do sistema nervoso central, como déficit de memória, alteração do comportamento e do padrão do sono. Pacientes em uso de corticosteroide podem mostrar-se irritados, com dificuldade de concentração e até mesmo desorientadas. Já o uso crônico de corticosteroide está associado a glaucoma (aumento da pressão intraocular), catarata, edema na face (rosto redondo), maior suscetibilidade a infecções e osteoporose (redução da densidade óssea) com maior predisposição a fraturas patológicas


Os corticosteroides podem ser utilizados por diferentes vias: oral, inalatória, como spray nasal, na forma de colírio, de maneira tópica e até mesmo por injeções, sejam elas intramusculares, intravenosas, intraarticulares e por via peridural. A eficácia dos corticosteoides depende da via de administração, da patologia e das comorbidades apresentadas pelo paciente. Corticosteroides aplicados por via peridural em portadores de dor lombar estão associados a melhora da dor em até 75% dos pacientes. Quando se conhece bem o fármaco, o paciente e os efeitos colaterais a ele atrelados, pode-se obter resultados ainda melhores e mais, pode-se adotar medidas para prevenir e/ou para tratar as complicações de forma precoce, o que irá implicar na redução do impacto das mesmas na saúde, na funcionalidade e na qualidade de vida do paciente. 


Pacientes que fazem uso crônico de corticosteroides devem utilizar uma pulseira de alerta médico e compartilhar esta informação com a equipe de saúde responsável pelo seu tratamento, pois a suspensão abrupta do mesmo pode implicar no surgimento de uma síndrome conhecida como insuficiência adrenal secundária, a qual é bastante desconfortável e caracterizada por fadiga, dores pelo corpo, náusea, vômito, diarreia, hipotensão e tontura. É aceito que o uso de corticosteroide por até sete dias, em qualquer dose, permita a sua retirada abrupta. Para uso superior a sete dias, é aconselhável a retirada lenta do mesmo. Cuidados adicionais podem incluir o uso de cálcio e vitamina D, além da troca da via de administração. Os corticosteroides utilizados de forma direcionada podem implicar na menor exposição de outras partes do corpo a este fármaco e consequentemente em maior segurança quanto ao seu uso. 


É verdade que os corticosteróides podem causar uma série de efeitos colaterais, mas também podem contribuir para o controle da inflamação, da dor e de uma série de desconfortos presentes em diferentes condições clinicas. Converse com seu médico para ajudá-lo a entender melhor os riscos e benefícios dos corticosteroides e fazer escolhas acertadas sobre sua saúde.


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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