Saúde e Bem-Estar

Bruxismo: o olhar do especialista de dor sobre o assunto

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Bruxismo: o olhar do especialista de dor sobre o assunto

Foto: ilustrativa/Pexels

 


O ranger dos dentes tem sido descrito na literatura cientifica como bruxismo desde 1906, quando foi considerado um comportamento oral, relacionado a percepção de dor e raiva. Em verdade representa uma patologia de prevalência crescente e que acomete cerca de 30% da população, comprometendo a sua qualidade de vida, fato que preocupa não apenas o paciente, mas também as equipes de saúde. Hoje, o bruxismo é definido como uma atividade muscular mastigatória rítmica, caracterizado pelo apertamento ou ranger dos dentes, fenômeno regulado principalmente pelo sistema nervoso central e influenciado perifericamente.


A Academia Americana de Medicina do Sono considera o bruxismo como um distúrbio relacionado ao sono. O bruxismo apresenta duas manifestações circadianas distintas: bruxismo do sono e bruxismo acordado, também conhecido com bruxismo de vigília, os quais compartilham fatores de risco comuns e levam a consequências semelhantes para o sistema mastigatório. Este comportamento oral alterado tem sido associado ao desgaste e perda de unidades dentárias, mas representa muito mais, estando atrelado a sensibilidade dos músculos mastigatórios, dores de cabeça, distúrbios do sono; distúrbios respiratórios do sono, como síndrome de apnéia do sono e hipopnéia; transtornos de comportamento e até ao uso de alguns medicamentos.  


Tem sido comprovado que alguns fármacos frequentes na prescrição de pacientes portadores de dor crônica podem agravar o bruxismo, como antidepressivos inibidores seletivos da receptação da serotonina ou da noradrenalina, antipsicóticos e anfetaminas. Sabe-se que o bruxismo é influenciado por fatores psicossociais e comportamentais, o que significa que atividades parafuncionais oromandibulares, disfunções temporomandibulares, má oclusão geralmente estão presente em pacientes com altos níveis de ansiedade e estresse. Acredita-se que a sua etiologia seja multifatorial, embora observe-se que os distúrbios psicológicos têm destaque como causa deste distúrbio funcional.


Apesar do quadro clínica e das comorbidades descritas, é importante ressaltar que as evidências científicas disponíveis não suportam a visão de que o bruxismo é uma causa direta de dor, o que deve ser levado em consideração no tratamento e no manejo de pacientes. Um dos princípios do tratamento da dor é buscar identificar a sua causa. Estas observações fortalecem a necessidade do diagnóstico etiológico da dor e do tratamento multiprofissional precoce, com o intuito de prevenir a sua progressão e as consequências citadas. 


Estudos demonstram que o bruxismo do sono pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais frequente em crianças do que em adultos, sendo mais prevalente em adolescentes do sexo masculino. Em crianças a evolução do bruxismo geralmente é satisfatória, desde que diagnosticado e tratado precocemente. Acredita-se que o estresse e a ansiedade também estão no centro da etiologia do bruxismo neste grupo de pacientes, o que pode estar relacionado ao número crescente de tarefas e demandas das crianças e adolescentes nos dias atuais. Algo interessante a observar nestas faixas etárias é que pode existir uma relação entre parafunções e bruxismo do sono, portanto morder os lábios, unhas ou canetas podem desempenhar um papel importante na gênese do bruxismo em crianças. Neste contexto, eliminar tais comportamentos torna-se primordial na profilaxia e no tratamento do bruxismo. 


DIAGNÓSTICO


O diagnóstico do bruxismo geralmente é um processo complexo, que envolve a necessidade do olhar atento do paciente e de seus familiares e a avaliação por uma equipe de saúde treinada. Geralmente há presença de sons característicos gerados pelo ranger dos dentes durante o sono, redução da abertura da boca, estalidos, crepitações na articulação temporo-mandibular e dores musculares. Apesar deste quadro rico, apenas estes sinais e sintomas não são suficientes para se fechar o diagnostico desta patologia. É preciso a realização de um exame físico detalhado e a realização de alguns exames complementares, os quais só poderão ser feitos e solicitados por profissionais específicos. Os profissionais mais procurados com este fim são os odontólogos e médicos especialista em dor e disfunções orofaciais. 


O segundo passo após o diagnostico é buscar o tratamento específico. Este é tido como desafiador e envolve a utilização de aparelhos oclusivos durante o sono para proteger os dentes contra a abrasão e fratura patológica, fisioterapia, acupuntura, biofeedback, fotobiomodulação, terapia psicológica, com mudança de hábitos indesejáveis, redução do estresse e higiene do sono, buscando sempre um estilo de vida mais saudável.


O tratamento farmacológico pode ser necessário, quando isto ocorre este é feito através da administração de relaxante muscular, benzodiazepínicos e alguns anticonvulsivantes. É importante lembrar que a educação dos pacientes e da equipe de saúde no que diz respeito ao diagnostico e aos tratamentos disponíveis mostram-se fundamentais, pois só desta forma é possível minimizar os efeitos precoces e tardios do bruxismo ao longo da vida dos pacientes. 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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