A relação entre o instestino e a dor
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A dor crônica tem diferentes origens e acomete uma em cada cinco pessoas em todo mundo. Este dado é preocupante, pois sabe-se que a dor, seja ela aguda ou crônica, está associada a sofrimento, perda da funcionalidade e, principalmente, ao comprometimento da qualidade de vida.
Inúmeros artigos estão disponíveis na literatura, os quais buscam esclarecer a origem da dor e os fatores que contribuem para a sua cronificação. Em verdade, sabe-se que a dor crônica geralmente é multifatorial. Fala-se da contribuição de fatores genéticos, fatores psicológicos e sobretudo em fatores ambientais, tais como, estresse, fármacos quimioterápicos, toxinas presentes nos alimentos, infecções adquiridas e mal hábitos desenvolvidos durante toda a vida. Dados emergentes de estudos sugerem a participação da microbiota intestinal neste processo, a qual representa a comunidade de microorganismos, como fungos, bactérias, protozoários e vírus, que habita todo o trato gastrointestinal.
De acordo com as estimativas atuais, diferentes germes residem no corpo humano, sendo o trato gastrointestinal um local onde a comunidade microbiana é enorme. Acredita-se que a alteração da microbiota intestinal fisiológica ou a exposição inesperada a bactérias específicas no intestino podem regular o sistema nervoso, levando à alteração da função cerebral, o que ilustra a existência de uma rede de relação entre a microbiota (germes), o intestino e o cérebro, a qual é bidirecional. Modificações na microbiota intestinal interferem no funcionamento cerebral e vice-versa. É sabido também que esta interação entre o intestino e o cérebro possui múltiplos caminhos, envolvendo vários tecidos e órgãos como glândulas, células imunes, sistema nervoso autônomo, além, é claro, do cérebro e intestino, que se comunicam para manter a harmonia do organismo humano.
Disbiose
O desequilibrio na microbiota intestinal, também conhecido como disbiose, está associada a diversas doenças, incluindo as autoimunes, metabólicas, neoplásicas, neurológicas, gastrintestinais, cardiovasculares, neurológicas e infecciosas. Isto é considerado um fato. Muitas dessas doenças cursam com dor, a exemplo da osteoartrite, fibromialgia, dor neuropática, cefaleia e dor abdominal de diferentes origens.
Pesquisas demonstram que as bactérias podem ativar os receptores de dor e que patógenos virais e fúngicos, quando presentes na microbiota intestinal, são capazes de provocar aumento da sensibilidade à dor, exacerbando-a. Se uma microbiota intestinal rica em microrganismos patogênicos e pró-inflamatórios causa dor, imagina-se que uma microbiota saudável possa contribuir para a prevenção e, até mesmo, para o tratamento da dor e de algumas patologias.
Mas o que seria uma microbiota intestinal saudável? Uma microbiota intestinal saudável é aquela abonada em bactérias com alto potencial probiótico, como Lactobacillus e Bifidobacterium. Para otimizá-la é importante cultivar alguns hábitos, como o consumo de frutas, vegetais e legumes; grãos integrais; ingestão de iogurtes e leites fermentados ricos em probióticos (microorganismos vivos); consumo de fibras e hidratação adequada. Além disso, deve-se evitar sempre o consumo excessivo de alimentos industrializados, ultraprocessados, embutidos, farináceos e gorduras saturadas, os quais geralmente contém excesso de sal ou açúcar. Fumar, ingerir bebidas alcoólicas e utilizar de forma inadequada antibióticos também podem interferir de forma negativa na manutenção de uma microbiota saudável.
Uma dúvida comum nos consultórios é de como diagnosticar disbiose. Existem alguns testes específicos, mas estes só devem ser solicitados na presença de dor abdominal após as refeições, sensação frequente de má digestão, relato de excesso de gases intestinais e períodos de diarreia, intercalados com prisão de ventre.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.