Trabalhando a autoestima para melhorar a dor
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Pesquisas demonstram uma ligação entre dor e autoestima. Sabe-se que a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, um sintoma subjetivo que sofre influência de inúmeros fatores, sejam eles físicos, psíquicos ou sociais. Dentre estes destacam-se os fatores genéticos, o tipo de lesão, o contexto em que esta aconteceu, a personalidade do individuo, a sua forma de se relacionar com as informações que lhe são apresentadas no dia a dia e sobretudo das interações sociais vivenciadas pelo mesmo até então.
A autoestima, por sua vez, representa os pensamentos e os sentimentos das pessoas sobre si mesmas, corresponde a capacidade de estar satisfeito com quem elas são, de confiar em si e de reconhecerem o seu valor. Em verdade, a autoestima reflete a autovalorização que o indivíduo faz em diferentes situações e momentos da vida, a partir de um determinado conjunto de preceitos eleitos por ele como negativos ou positivos. Neste contexto é fácil compreender que a dor e a autoestima estão diretamente relacionadas e que quanto maior a autoestima apresentada pelo paciente, maior será a sua capacidade de superar a dor e o sofrimento por ela desencadeado.
Acredita-se que a autoestima sofra influência da percepção individual de como a pessoa é vista e avaliada pelos outros, tanto no momento no qual ela inconscientemente está sendo convidada a fazer esta reflexão, como ao longo do tempo. Autoestima, portanto, reflete a interação do indivíduo consigo mesmo e com a sociedade, num mecanismo de “feedback” contínuo.
Este pensamento é bastante interessante e fundamenta a “teoria do sociômetro”, segundo a qual, as reações dos outros exercem influência sobre o que a pessoa é e sobre como ela se vê, elementos importantes para a construção da autoestima, uma vez que o próprio sistema de autoestima funciona como um monitor subjetivo do grau em que o indivíduo está sendo incluído e aceito versus excluído ou rejeitado por outras pessoas. Como a inclusão social e os relacionamentos são essenciais para uma boa saúde física e psicológica, os seres humanos presumivelmente desenvolvem um motivo fundamental para manter algum grau de conexão positiva com aqueles que estão ao seu redor. Segundo a “teoria do sociômetro” a autoestima responde as experiências sociais de cada um. Casos específicos de aceitação ou rejeição causam mudanças agudas no ‘estado’ de autoestima de alguém, contribuindo ou não para a o seu crescimento.
É importante ressaltar que a autoestima está relacionada à natureza cognitiva do indivíduo e a traços de sua personalidade, elementos essenciais na definição e na construção das relações sociais. Pessoas com baixo traço de autoestima e com comportamento de negativismo podem ser mais propensas a perceber as reações dos outros como indicativas de rejeição.
Por outro lado, pessoas com altos traços de autoestima, que estabelecem relacionamentos de maior qualidade com familiares, amigos e parceiros românticos apresentam níveis mais altos de traços de autoestima e tendem a adotar uma “postura positiva” diante do adoecimento, da dor e das experiências do dia a dia. Isto é algo interessante. Os seres humanos são sociais e muitas vezes dependem da aceitação dos outros para estarem bem, para se sentirem fortalecidos diante dos desafios da vida. Mas realmente é preciso se moldar aos valores dos outros e da sociedade para superar a dor e ser feliz? Estudos mostram que não.
É preciso identificar e fortalecer aquilo que tem valor para o individuo e não apenas para o coletivo. É possível estar bem e ter sucesso apesar da dor, seja ela física, espiritual, emocional ou social. A dor social representa uma reação emocional negativa específica à percepção de que alguém está sendo excluído dos relacionamentos desejados ou está sendo desvalorizado por parceiros ou grupos de relacionamentos desejados.
Trabalhos de ressonância magnética funcional do cérebro demonstram um aumento da ativação do córtex cingulado anterior dorsal, área cerebral relacionada a dor, seja ela dor física, psíquica ou social. Este dado sugere que o grau de inclusão social e, consequentemente de autoestima, está diretamente relacionado a dor e ao sofrimento dela decorrente, mas também sugere que trabalhando a dor em qualquer dos seus aspectos, é possível reduzir a ativação de áreas cerebrais relacionadas a mesma. Pacientes com doenças crônicas precisam fortalecer a sua autoestima e tratar a dor social. Para tal, é fundamental refletir sobre o que realmente tem valor para ele.
Muitos associam o sucesso a receber elogios e a ser aceito socialmente. Entretanto, deve-se lembrar que viver com uma doença crônica, ou com a dor, não é sinônimo de não aceitação. Não significa que o individuo não possa ter sucesso naquilo que se propõe a fazer. Muitas vezes, só é preciso rever os objetivos, entender que a vida é dinâmica e que se modifica continuamente e perceber que através da autoaceitação e do aumento da autoestima é possível a recuperação do prazer de viver e principalmente a superação do sofrimento e da dor.
É importante dissociar a autovalorização do olhar externo e agregá-la a aquilo que realmente tem significado para cada um. Esta sim, deve ser a base da autoestima, do sucesso e da superação da dor. Pode-se trabalhar a origem da dor no intuito de modificar o comportamento doloroso, mas também é possível trilar o caminho inverso, trabalhar a autoestima e o comportamento doloroso para controlar a dor.
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