A dor do paciente queimado e suas particularidades
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É São João, época de comida típica, brincadeira e muita alegria. Neste período é comum a utilização de fogueira e de fogos de artifício, elementos que podem transformar esta data festiva em um momento de estresse e de dor. Embora as queimaduras térmicas sejam as mais comuns, sabe-se que queimaduras podem também ser causadas por agentes químicos e elétricos, os quais atuam destruindo parcial ou totalmente os tecidos de revestimento do corpo, podendo atingir desde a camada superficial da pele, até as mais profundas, como o tecido subcutâneo, músculos, tendões e ossos. Portanto, a escolha deste tema para a coluna de hoje se deu pela observação de que a experiência de dor na queimadura não se restringe a uma fase aguda e a lesões de pequena monta.
Muitos pacientes apresentam a necessidade de internamentos prolongados, múltiplos curativos e cirurgias plásticas, elementos que contribuem não apenas para o sofrimento físico, mas também para o sofrimento psíquico decorrente da transfiguração corporal, da rejeição e da interrupção de atividades laborais. A dor persiste, cronifica-se, compromete a qualidade de vida do paciente e torna-se um desafio para a equipe de saúde. Desafio este que se torna ainda maior quando se considera que a maioria dos pacientes queimados são crianças.
A dor que ocorre no paciente queimado pode ser nociceptiva ou neuropática. A dor nociceptiva é decorrente da estimulação de receptores específicos da dor, chamados nociceptores cutâneos, que estão presentes na derme, uma das camadas da pele. Já a dor neuropática, tem um mecanismo diferente e envolve a presença de lesão ou disfunção do sistema nervoso, decorrente da agressão inicial, do processo de cicatrização ou do tratamento instituído. A identificação destes tipos de dor é fundamental para a definição do tratamento adequado.
Há diferentes graus e tamanhos de queimaduras. A observação mais simples pode levar à conclusão de que quanto maior a área queimada, maior a dor e mais profunda a queimadura. Isto nem sempre é verdade. Na realidade, as queimaduras consistem em uma combinação de feridas profundas dérmicas ou de espessura total, misturadas com áreas mais rasas em que algumas terminações nervosas permanecem intactas. Todo este processo gera dor e implica na necessidade de um seguimento especializado e multiprofissional.
É importante lembrar que a melhor forma de abordar a dor é de maneira preventiva. Sabe-se que a prevenção pode ser primária ou secundária. A primária envolve a aplicação de medidas que venham a impedir que a lesão ocorra. A prevenção secundária, por sua vez, tem como objetivo evitar dor e/ou sofrimento adicional. No caso das queimaduras, recomenda-se como medidas de prevenção primária a orientação da população quanto ao manuseio dos fogos.
Dentre as prevenções secundárias, encontram-se os primeiros socorros e o tratamento precoce das lesões e da dor. Deve-se resfriar a área queimada com água morna ou fria, o que irá encerrar o processo de queima e reduzir a dor da lesão. Para evitar hipotermia, deve-se aquecer o paciente. Nos casos mais graves, indica-se o encaminhamento do paciente à unidade hospitalar o mais precocemente possível. Podem ser necessários curativos, hidratação venosa e analgésicos potentes. Havendo presença de dor neuropática, recomenda-se a utilização de antidepressivos, anticonvulsivantes e bloqueios analgésicos. Apesar dos avanços diagnósticos e terapêuticos, o manejo inadequado da dor ainda é uma realidade neste contexto.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.