Discutindo a dor nas costas em crianças e adolescentes
A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) elegeu 2021 como o ano global sobre a dor nas costas, o qual visa orientar médicos, cientistas e o público em geral na compreensão dos desafios globais de prevenção, investigação e de tratamento da mesma. A escolha deste tema é interessante e traz consigo a necessidade de discutir a dor nas costas em alguns grupos específicos, como crianças e adolescentes.
Esse tipo de dor em crianças com idade inferior a 10 anos de idade é rara. Todas as crianças com dor nas costas, de início recente, nesta faixa etária, precisam de uma avaliação cuidadosa no intuito de afastar etiologias que impliquem em tratamentos específicos. Sinais de alerta são representados por febre, presença de dor em outros locais, dor que começa após trauma físico ou após o uso de corticosteroides. Sinais neurológicos como fraqueza muscular, alteração da sensibilidade e disfunção do esfíncter anal devem ser pesquisados e esta informação deve ser compartilhada com a equipe de saúde.
Em faixa etária maior, a realidade é diferente. Estudos realizados no Canadá e na Inglaterra demonstraram que uma em cada cinco crianças em idade escolar tem dor nas costas. Estes estudos observaram adolescentes na idade entre 11-19 anos e constataram que um em cada cinco jovens experimentam dor lombar semanalmente ou mais, havendo uma frequência maior em meninas, quando comparada aos meninos. Este dado é preocupante, uma vez que a incidência de dor nas costas aumenta com a idade e, na grande maioria dos jovens, está associada à limitação funcional relacionada à dor. Este dado aponta para a necessidade de compreender melhor os fatores relacionados à origem da dor, pois só desta forma será possível investir em estratégias de prevenção e de tratamento precoce.
Alguns fatores de risco têm sido descritos, como sexo feminino, estatura elevada, sobrepeso, extremos de atividade física, história familiar e problemas de saúde mental. Embora alteração na postura, inadequação dos móveis escolares, tempo de tela, peso e o uso incorreto de mochilas escolares sejam propostos como elementos predisponentes para a dor nas costas, este tópico é controverso, uma vez que revisões sistemáticas não encontram associação consistente entre dor nas costas nas crianças e adolescentes e os fatores citados.
Alguns tópicos merecem ser discutidos com mais detalhes. Dentre estes, a atividade física. Sabe-se que atividade física moderada e regular, como corrida, natação e ciclismo, as quais parecem representar um fator de proteção para a lombalgia inespecífica na adolescência, devem ser incentivadas. Em contraste, esportes competitivos de alto níveis são desaconselhados.
Fatores psicossociais podem predizer a evolução da dor nas costas. Altos níveis de ansiedade e depressão são preditivos de dor recorrente na adolescência. São necessários estudos para definir a melhor intervenção psicológica para jovens com dor crônica e recorrente neste contexto.
Em conclusão, a recomendação é estar atento às demandas apresentadas pelas crianças e adolescentes. Sentir dor nas costas não é algo a ser encarado como natural. É preciso incentivar alguns hábitos, os quais envolvam uma dieta balanceada, atividade física regular e atividades de lazer que permitam a integração e o desenvolvimento saudável dos mesmos.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.