Uma reflexão sobre a pandemia de Covid-19 e a automedicação nos pacientes com dor crônica
A doença Covid-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2 foi descrita pela primeira vez em dezembro de 2019 em Wuhan, na China, mas, desde estão, espalhou-se globalmente de forma muito acelerada. Embora o número de casos e a alta taxa de mortalidade chamem a atenção de todos, estes elementos não são as únicas consequências desta pandemia.
Desde a descoberta da doença e a declaração da mesma como pandemia, tem-se vivido um contexto de restrições de recursos de saúde pública e privada, além do estresse relacionado à essa situação. Tudo isso, somado ao encargo físico, psicossocial e financeiro preexistentes do paciente com dor crônica, contribuem para um maior sofrimento desta população. Muitos foram levados a interromper o seu tratamento, deixaram de realizar fisioterapia, de frequentar grupos de autoajuda e de submeter-se a acupuntura ou bloqueios analgésicos.
Incertezas em relação a segurança do uso de anti-inflamatórios não-hormonais e a redução da disponibilidade de alguns fármacos como dexametasona, hidroxicloroquina e opioides ajudaram a comprometer o tratamento da dor. Usuários crônicos de analgésicos passaram a ter dificuldade de acesso as equipes prescritoras e isto se traduziu na busca de alternativas, dentre elas a automedicação. Esta é conceituada como o ato de ingerir remédios para aliviar sintomas sem orientação médica no diagnóstico, na prescrição ou no acompanhamento do tratamento.
No último dia 5 de maio foi comemorado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento. Esta data foi criada com o intuito de alertar a população quanto aos riscos à saúde proporcionados pela automedicação. No Brasil 35 a 77 % dos medicamentos são adquiridos nas farmácias por pessoas que estão se automedicando. Não há dados recentes que permitam avaliar o impacto da pandemia na prevalência da automedicação nos pacientes portadores de dor crônica no país, mas alguns estudos demonstram que a automedicação é um dos principais problemas de saúde no Brasil, sendo os analgésicos em gerais, antitérmicos e anti-inflamatórios não-esteroidais os principais alvos deste tipo de prática.
A pandemia de Covid-19 agregou outros medicamentos a esta lista, como ansiolíticos, vermífugo, antivirais e vitaminas. Apesar de nenhum deste fármacos serem utilizados para o controle da dor, muitos deles são frequentes nas prescrições deste grupo de pacientes.
Acredita-se que vários fatores venham a contribuir para este comportamento, como a propaganda desenfreada de determinados medicamentos, o que contrasta com tímidas campanhas de esclarecimento; a dificuldade de acesso a opinião médica; o medo de se adquirir uma doença e a falta de regulamentação e fiscalização daqueles que vendem os medicamentos. Além disso, faltam programas educativos acerca dos efeitos colaterais e dos riscos da automedicação.
O problema é global, antigo e de elevada proporção, podendo inclusive ser considerado uma forma de não adesão ao tratamento que tem como possíveis complicações a presença de intoxicações, interações medicamentosas, alívio dos sintomas com consequente retardo no diagnostico correto da doença, presença de reação alérgica, dependência e resistência a alguns medicamentos como analgésicos e até mesmo antibióticos. A automedicação gera também um mau hábito, o de armazenar remédios em casa. Esta conduta pode levar a questões graves como confusão entre medicamentos, ingestão de substâncias após o seu vencimento, ineficácia do tratamento causado pelo mau armazenamento do remédio e ingestão acidental do mesmo pelas crianças.
Antes de ingerir qualquer medicamento, o ideal é realizar uma consulta médica, seja ela virtual ou presencial. Então, a equipe de saúde irá orientar o melhor tratamento considerando as características do metabolismo do paciente, a presença de comorbidades e o diagnóstico correto da doença de base.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.