Saúde e Bem-Estar

Espiritualidade e religiosidade no enfrentamento da dor

Colunista On: Dra. Anita RochaAlgologista e especialista no tratamento da dor
Espiritualidade e religiosidade no enfrentamento da dor

O tópico espiritualidade e religiosidade associado à saúde vem sendo alvo de estudos científicos há vários anos. Observa-se que as publicações são crescentes em número e em qualidade de evidência, principalmente nos últimos anos. Várias áreas e especialidades clínicas têm sido pesquisadas. Dentre elas, destacam-se a oncologia, a cardiologia, a psiquiatria e a medicina da dor.  Avaliando a história, a fisiopatologia e os conceitos relacionados à dor, pode-se perceber que a dor assumiu diferentes significados ao longo do tempo:


(a) crença espiritual de punição por algum mal ou comportamento inadequado;


(b) aspecto fundamental da vida, a dor é parte da vida e contribui para a proteção de um mal maior. Quando o indivíduo coloca a mão em uma chapa quente, a dor o impulsiona a retirar rapidamente a mão, o que limita a lesão. É importante lembrar que assim como há a dor que protege, também há a dor que paralisa, que bloqueia o reflexo de fuga de uma situação de estresse, seja ele físico ou psíquico;


(c) direcionadora de emoções como tristeza, ansiedade e até mesmo agressividade;


(d) há aqueles que acreditam que a dor representa uma estratégia efetiva de aprendizagem, que fortalece o indivíduo contra experiências negativas futuras. Isto realmente é verdade. Quando um ratinho se machuca ao ser colocado em uma gaiola com uma ratoeira em seu interior, ele passa a ter medo de outras gaiolas com aparência semelhante, mesmo daquelas que não contém uma ratoeira em seu interior. Mas será que o sofrimento é necessário para que haja aprendizado? Hoje a proposta é criar um mundo sem dor. A dor, principalmente a dor crônica, é vista como uma doença. Este olhar contribui para o crescimento das comunidades científicas no sentido de ampliar o número de pesquisas sobre a dor, para o surgimento da dor como área de atuação e para uma maior organização dos profissionais de saúde em prol do controle da dor. 


O que é a dor? Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor é uma experiência sensorial ou emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial. Neste contexto, a dor é única, particular e intransferível. A dor é dor mesmo na incapacidade de comunicar, mesmo sem poder verbalizar. As pessoas precisam estar preparadas para ouvir, para se comunicar de forma efetiva. Dialogar é um verbo complexo. Em verdade, ele representa a junção de outros verbos, como falar-ouvir-compreender-responder. 


A dor crônica em geral é considerada total e apresenta dimensões física, psicológica, social e espiritual. Para tratar a dor de forma efetiva é importante considerar todos estes aspectos. Quando o individuo sente dor, ele busca curá-la, amenizá-la e desenvolver estratégias de enfrentamento pautadas no equilíbrio, na espiritualidade e na religiosidade. É importante perceber que espiritualidade é diferente de religiosidade. A palavra espiritualidade é derivada do latim “spiritus”, parte essencial da pessoa que controla a mente e o corpo. Espiritualidade representa tudo aquilo que  traz significado e propósito para a vida. Dentro do espectro da espiritualidade encontra-se a religiosidade, a qual é definida como a prática de certos rituais, dependendo de cada religião. A religiosidade induz ao contato com a espiritualidade. 


A espiritualidade contribui para o controle da dor, uma vez que contribui para a redução dos hormônios relacionados ao estresse e para o aumento de neurotransmissores, como a noradrenalina e serotonina, que fortalecem o organismo contra a dor. Pessoas que se dedicam à espiritualidade são mais felizes e apresentam valores de pressão arterial, frequência cardíaca, glicemia e cortisol diminuídos. No ano de 2020, a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), fez uma publicação abordando esse tema e reforçando a ideia de que atitudes mentais positivas, a empatia, a solidariedade e o perdão contribuem para o bem estar das pessoas. É bom ser bom. Isto traz felicidade. Além disto, estudos demonstram que quem faz o bem é mais feliz e que é mais feliz, faz mais o bem. Isto se torna um ciclo de retroalimentação positiva. É fundamental que decidamos olhar o lado positivo da vida e ser feliz.


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha

Dra. Anita Rocha é médica Algologista , coordenadora do Itaigara Memorial Clínica da Dor, membro titular da Sociedade Brasileira de Anestesiologia; da Sociedade Brasileira de Dor e da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas da Dor. Possui residência médica em Anestesiologia pelo CET Obras Sociais Irmã Dulce; em Clínica da Dor pela UNESP-Botucatu e formação em Técnicas Intervencionistas para o tratamento da dor na Singular/Campinas. 

Instagram: @draanitarocha
 

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